
Olhares: Leituras e Releituras - A arte como resposta I (3/3)
Qual o papel da leitura e como ela pode influenciar (positivamente) nossas vidas.
Preconceito literário
7. Quando comecei no mundo da leitura não tardei a entrar em grupos de pessoas que partilhavam do mesmo amor. Foi nesses mesmos grupos que vi levantarem as bandeiras de ataques a determinado tipo de livro ou especificamente a autores, e construía-se ódio gratuitamente, me lembro da época em que o Crepúsculo ficou popular e isso aconteceu bastante, por exemplo. Gostaria que, como alguém que aprecia livros tanto quanto eu, falasse um pouco sobre essa situação.
Juliana: Eu acho que só inibe mais as pessoas a lerem, né? Se o contato que elas estão tendo ali naquele momento é Crepúsculo ótimo, eu sou uma super fã, eu li todos os livros mais de uma vez. Então leia, incentive a leitura, às vezes aquela pessoa não gosta do mesmo tipo de livro que você, mas ela gosta de ler… O que ela gosta de ler? Como que a gente vai incentivar isso? Não existe só um único tipo de livro certo. Eu sei que hoje em dia, não sei como que é o critério de publicações de livros, mas eu sei que existem alguns livros que são um tanto duvidosos. Mas enfim, né. Eu acho que a pessoa a partir do momento em que ela é uma leitora mais voraz, né, mais crítica, ela vai conseguir discernir ali o que faz sentido e o que não faz para ela. Né? E eu acho que além dessa questão de dessa divisão entre clássicos e livros contemporâneos, eu tive uma experiência de que quando eu saí do ensino médio e fui entrar na universidade não sei porque, mas na minha cabeça eu só deveria ler livros técnicos, porque eu era adulta… e aí eu deixei por mais de um ano os livros que eu gostava muito de lado e fazer o resgate disso de novo levou um tempo né de entender que não o livro para mim hoje ocupa a literatura para mim ocupa hoje um local de lazer de prazer que é o momento do meu dia em que eu pego meu livro e que eu vou ler e é só isso e é um momento maravilhoso. Eu passo o dia esperando isso porque antes, quando adolescente qualquer tempo livre era tempo para ler e hoje em dia eu tenho que manejar melhor esse tempo, né? Então eu acho que são coisas que realmente as pessoas impõem ali como regra e outras que a gente imagine que elas não existem e que não precisam existir. A gente pode colocar o livro em nossa vida de cada um em um lugar que faz sentido e não é de fato que gosta porque leitura é isso é prazer.
Gabriella: Concordo contigo, acho que esse tipo de fala mais afasta do que atrai qualquer pessoa. Não vai fazer a pessoa ficar interessada por uma literatura diferente se ela tá tendo contato com algum livro por mais que ele possa ser duvidoso é uma porta de entrada e talvez dali ela possa partir para outras coisas diferentes, né?
Juliana: Sim!
8. Os tempos mudam e as pessoas também. As formas de escrita variam, bem como a temática das obras. Existe muito dinheiro por trás do cenário de publicações, existe interesse em que determinado autor produza mais um livro, pois ele irá vender. O que você pensa sobre isso?
Juliana: Como leitora eu acho chato porque você acaba tendo contato com muitos livros que são iguais. Né? E que em determinado momento você não faz mais nem tanto questão daquele livro daquele autor porque você sabe exatamente o que vai acontecer e eu acho que isso cria uma própria pressão dos escritores também, né de ter que fazer algo que viralize que vende muito que vive um best-seller e acaba saindo ali um pouco. Da essência do próprio escritor né então acho que todos os lados perdem só um que não, mas enfim. Por isso eu acho muito legal essa movimentação de plataformas em que as pessoas podem ali criar os seus textos, os livros ser lido por outras pessoas têm essa pressão, né? Eu não sei como exatamente funciona para você publicar E-Pub No Kindle. Mas algumas pessoas conseguem disponibilizar aquilo de graça, eu não sei como que é o processo, mas eu acho que para um escritor iniciante o fato de seu livro está sendo lido por alguém deve ser algo assim, extremamente significativo Né? E aí a partir disso os leitores tem contato com coisas diversas, né? Porque ele não tá ali com a intenção de vender, mas de que a obra dele seja lida.
9. Bônus: "Que a arte nos aponte uma resposta mesmo que ela não saiba". Dentro de todo subjetivismo que possa pairar nessa pergunta, para você por que as pessoas leem e escrevem?
Juliana: Porque elas escrevem não faço ideia, nunca foi o meu forte a escrita. Mas eu acho que leitura para mim, e aí eu vou falar a partir da minha experiência, sempre foi no lugar de me encontrar de alguma forma, né de ver ali na literatura percepções de vida, de mundo, que talvez se assemelham um pouco com meu e que sejam diferentes também, que me deem a oportunidade de pensar sobre, né, criar ali um raciocínio mais crítico, ter contato com outras realidades que não são as minhas né? E acho que ampliar essa visão que a gente tem do mundo, que eu acho que ficar centrada nessa na bolha, sempre me incomodou muito. Eu sei que a gente tem realidades diversas e a literatura me conecta muito com isso. Então acho que ampliar essa visão que a gente tem do mundo e às vezes também tem uma leitura de conforto, né? Às vezes o dia tá muito difícil. E você só quer um romancezinho com açúcar no final do dia e tá tudo certo. Eu acho que a leitura ela tem vários papéis. E isso molda muito quem a gente é né? Porque a gente consome muita coisa e a gente acaba sendo influenciado por isso. Né? Então eu diria que parte da pessoa que eu sou hoje tem muita influência de todas as leituras que eu já tive ao longo da vida de cada uma de uma forma diferente.
Gabriella: Esses encontros todos te mudaram com cada história, com cada livro?
Juliana: Em certa forma sim, né? Fez com que eu tivesse outros olhares sobre coisas que para mim era de um jeito, mas a partir do momento que eu tenho outras perspectivas e outras visões ali isso amplia meu olhar e faz com que eu pense sobre. Né? Então eu sempre fui muito imersa na leitura, né? Minha mãe comentava que eu chorava para entrar na livraria e não numa loja de brinquedo. Então eu acredito sim, que os livros mudaram muito quem eu sou. Hoje não só eles, mas eles tiveram um papel significativo na minha vida enquanto leitora.
Gabriella: Eu acho que na parte da escrita você comentou que não é tanto né? Essa área, mas acho que não é muito diferente do que você trouxe também quando eu penso sobre livros e sobre o que que eles têm o poder de transformar na vida das pessoas. Eu gosto muito de lembrar da história do Júlio Verne, né? Que é um dos maiores atores de ficção científica um dos primeiros, né que surgiram e enfim tem histórias incríveis e ele escreveu sobre o oceano sobre o mundo sobre várias cidades histórias sem nunca ter saído do quarto dele basicamente, né? Então quantos lugares ele conseguiu chegar dentro da própria cabeça e conseguiu transpor isso para que outras pessoas pudessem viajar junto com ele. Então até hoje essas histórias são contadas, recontadas, editadas, e elas seguem ali encantando pessoas trazendo elas, né? Para esse convite de viajar um pouquinho, né de entrar. No universo diferente eu acho isso fantástico e eu acho que mescla um pouquinho, do poder que a escrita e a leitura tem pois são encontros necessários, né?
Juliana: Perfeito, né de que de dar nome e forma para as coisas, né? Traduzir aquilo que a gente vive. Mas não de uma forma muito exata,porque eu acho que cada um interpreta de uma forma e tem uma visão diferente daquilo, né? Então eu acho que o escritor coloca um pouco dele em cada livro com uma ideia específica. Mas a partir do momento em que ele é lançado no mundo, ele pode criar em outras formas.
Gabriella: Sim, eu gosto muito de escrever, eu lembro que uma época eu tava tentando aperfeiçoar mais essa parte da escrita e comecei a ler alguns autores que falam sobre isso, né e Umberto Eco é um desses né que fala sobre escrita e tem uma parte de um livro dele que ele eu esqueci agora o nome do livro, mas acho que é como se tornar um escritor se eu não me engano ele comenta sobre isso de interpretação, né que você interpretar um poema e você matar poesia, né? Porque quem é você, né para interpretar aquele poema tem várias formas de ler um poema. Eu achei isso tão incrível, porque eu gosto de interpretar os poemas e dividir o que eu tô pensando, por exemplo, sobre isso. Outras pessoas, né? Eu nunca considerei isso como matar entre aspas a poesia, né que existe ali por trás, mas você vai pegar numa questão mais técnica existem né? Esses pormenores ali no meio do caminho, né?
Juliana: Se eu acho muito eu acho muito legal isso de quando eu enquanto leiga, vou ler alguma poesia e aí eu tenho. Uma interpretação dela. E aí quando eu vejo uma crítica literária de uma pessoa que está fazendo mestrado na área. Trazendo cada vírgula um sentido diferente a minha cabeça explode por não tinha pensado nisso é muito legal.
Gabriella: Isso são coisas que vão somando né na nossa experiência.
Juliana: Sim
Gabriella: Muito bem! Tem alguma coisa que você gostaria de adicionar como uma mensagem final para quem tiver lendo aqui essa matéria, essa entrevista.
Juliana: Que as pessoas leiam mais, que ler transforma a vida de fato não só de quem está lendo, mas quem está escrevendo também.
Gabriella: Sim, a minha foi transformada totalmente por esse encontro com os livros, então eu assino embaixo.